Prioridades Pastorais
Tom Ascol
Um dos maiores desafios que enfrento em minha vida pastoral é manter um
equilíbrio adequado em minhas prioridades. Todo pastor precisa desempenhar
vários papéis, a fim de permanecer fiel à sua chamada. Ele tem de ser um
estudante da Palavra de Deus e um homem de oração; ele tem de liderar sua
igreja, trabalhar muito para pregar e ensinar a Palavra, de modo que suas
ovelhas estejam continuamente sendo transformadas por ela na imagem de Cristo. O
pastor tem de realizar a obra de evangelista e dedicar-se à obra de lidar
individualmente com os membros da igreja. Tudo isso e muito mais está incluído
na obra de servir a Cristo como um pastor de almas.
Todo pastor é mais do que um pastor. Ele é primeiramente (e antes de tudo) um
discípulo. Ele também é um esposo e, provavelmente, um pai. Além disso, o pastor
pode assumir outros deveres relacionados ao seu ministério. De que maneira todos
esses importantes papéis podem ser cumpridos, sem que o melhor do pastor seja
sacrificado no altar daquilo que é bom? Mesmo nas melhores circunstâncias, esse
é um desafio que nos causa temor.
Uma das perguntas que sempre faço aos meus aconselhados é esta: “Em ordem de
prioridades, para o que Deus chamou você?” Essa é uma pergunta esclarecedora,
porque força a pessoa a avaliar sua vida com base naquilo que é mais importante.
Ocasionalmente, faço essa pergunta a mim mesmo e descubro que ela me ajuda a
lutar por equilíbrio em minha vida.
Um Crente
Para o que Deus me chamou? Primeiramente, Ele me chamou para ser um sincero e
dedicado seguidor de Cristo. Isso é tão elementar, que facilmente podemos
esquecê-lo. O profissionalismo é um dos grandes perigos do ministério. Um pastor
pode se tornar competente na realização do seu trabalho. Assim como todas as
demais profissões, certas habilidades podem ser desenvolvidas e aprimoradas no
ministério do evangelho. Ele pode se tornar tão proficiente em seu ministério
público, que os outros o considerarão bem-sucedido.
Mas, quando a mentalidade do “profissionalismo” conquista um pastor, seu
coração inevitavelmente começará a ser negligenciado. E o coração é a primeira
ferramenta de todo pastor. Se você não está amando a Deus com todo o seu
coração, porque tem negligenciado as responsabilidades básicas do discipulado,
não importa o quanto você pode se tornar bem-sucedido profissionalmente. Na
realidade, isso é uma vergonha.
Spurgeon nos fala sobre um pastor que “pregava tão bem e vivia tão mal, que,
ao subir ele ao púlpito, todos diziam que ele nunca deveria sair dali; e, quando
ele saía do púlpito, todos declaravam que tal pastor nunca mais deveria retornar
ao púlpito”. Essa divisão da vida em áreas distintas pode ser aceitável em
outras profissões; no entanto, dificilmente ela pode ser harmonizada com o
cristianismo vital e, menos ainda, com a fidelidade no ministério pastoral.
Muitos homens bons têm tropeçado nesse primeiro nível da vida pastoral.
Portanto, guarde o seu próprio coração. Leia a Palavra de Deus, antes e acima de
tudo, como um crente. Um pastor precisa das mesmas coisas que ele declara que os
outros necessitam. Ele deve seguir a sabedoria de Robert Murray M’Cheyne, o qual
afirmou: “Deus abençoa muito mais a semelhança com Jesus do que os grandes
talentos. Um pastor que vive em santidade é uma arma poderosa nas mãos de
Deus”.
O apóstolo Paulo advertiu aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós”. Quando
ele repetiu essa advertência a Timóteo, acrescentou que fazer isso é um
ingrediente essencial para salvar “tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1
Tm 4.16). Os pastores têm de transformar em um assunto de prioridade e
disciplina o ler, o meditar e o memorizar as Escrituras. Eles precisam também
orar pela obra do Espírito Santo em suas próprias vidas. Qualquer outro
procedimento pastoral, que corresponda a menos do que isso, será uma prática
espiritual incorreta.
Um Esposo
Depois de ser um crente, Deus me chamou para ser um esposo. Assim como muitos
outros pastores, desfruto da bênção de ter uma esposa crente e leal. Minha
esposa, Donna, e eu entendemos com muita seriedade nossos votos de
casamento; isso significa que eu tenho de colocá-la e preservá-la acima de todas
as demais pessoas. Depois do Senhor Jesus, ela é a minha maior prioridade.
Ser um esposo é uma responsabilidade extraordinária. Jesus Cristo, em seu
relacionamento com a igreja, tem de ser nosso modelo. Ser o cabeça de um lar é
um grande desafio. Uma esposa piedosa tanto deseja quanto necessita da liderança
piedosa de seu esposo. A chamada para ser um bom esposo inclui providenciar tal
liderança. Cristo chama um homem para lutar contra os erros mortais da
passividade autoprotetora e do autoritarismo autopreservador na maneira como ele
se relaciona com sua esposa.
A esposa do pastor pode ter o papel mais difícil a desempenhar em toda a
igreja. Ela vê todos os erros e falhas de seu marido e, apesar disso, a cada
semana, ela tem de receber, por intermédio dele, instrução da parte de Deus. A
esposa do pastor vive em uma vitrine. Expectativas irreais dos crentes podem
freqüentemente trazer estresse à vida da esposa do pastor. Comentários
irrefletidos, que podem ou não ter o propósito de magoar, podem ferir
profundamente a esposa do pastor. Se, além dessas e de outras pressões, ela
sentir que seu esposo está negligenciando-a, o fardo pode se tornar muito pesado
para ser suportado. O pastor, na função de esposo, tem a responsabilidade e o
privilégio de assegurar à sua esposa que ela é mais importante do que qualquer
outro dos seus relacionamentos ou das suas responsabilidades. O pastor é chamado
para fortalecer, estimular e ajudar sua esposa a cumprir sua vocação como uma
mulher de Deus.
Minha esposa, Donna, precisa saber que ela é mais importante do que
meu ministério como pastor. Quando esta mensagem é clara e regularmente
transmitida, aqueles períodos inevitáveis de elevadas exigências da parte da
igreja são mais facilmente atravessados.
Um Pai
Em terceiro lugar, Deus nos chamou para ser pais. Donna e eu temos
seis filhos. Portanto, adquiri muita experiência na prática da paternidade. Se
as esposas dos pastores estão constantemente sendo observadas, muito mais os
filhos deles se tornam passíveis de críticas. Com freqüência, eles são
sacrificados “por amor ao ministério”. Quando eu era um jovem pastor, lembro-me
de estar sentado em meu escritório, enquanto ouvia um pastor aposentado cujo
ministério bem-sucedido era aclamado por todos. Ele me falou sobre muitas coisas
maravilhosas que havia experimentado nas igrejas em que servira ao Senhor.
Finalmente, ele acrescentou: “Eu paguei um preço elevado por meu ministério.
Meus filhos não aprenderam o que deveriam ter aprendido de seu pai, e hoje eles
abandonaram o Senhor e a igreja”.
Enquanto ele chorava, eu pensava em suas palavras. Naquela época, meu único
filho era simplesmente uma criança que estava aprendendo a andar. A atração de
necessidades que nunca se acabam e de oportunidades para ministrar estava me
tentando a negligenciar minha família por amor ao “meu ministério”. Deus, porém,
me fez lembrar que, em termos de prioridade, Ele me chama para ser um pai, antes
de me chamar para ser um pastor. Meus filhos precisam saber que, juntamente com
minha esposa, eles são as pessoas mais importantes de minha vida. Minha igreja
também precisa saber disso.
Um pastor pode negligenciar seus filhos facilmente, ainda que sem intenção e
motivado por um conceito errôneo de que ele tem de estar sempre pronto para
ministrar a outras pessoas. Mesmo nos melhores momentos, haverá algumas
separações na vida familiar de um pastor. A sua chamada envolve as 24 horas
diárias. Se acontecer a morte ou um acidente trágico com um dos membros da
igreja, antes do pastor sair para levar seu filho a uma pescaria, seus planos
têm de ser necessariamente mudados. Ele deve estar pronto para esperar tais
exigências.
Por causa disso, todo pastor sempre enfrentará duas tentações. A primeira
tentação é a de esperar que seus filhos simplesmente entendam as mudanças dos
planos, da mesma maneira como seu pai a entende. Um pastor sabe que, às vezes, é
necessário interromper certos planos, a fim de ministrar o evangelho a pessoas
entristecidas. No entanto, dependendo da idade, tudo o que seu filho pode saber
é que ele não precisava deixar de pescar, porque outra pessoa necessitava e
recebeu o tempo e a atenção de seu pai. Quando surgirem tais ocasiões, o pastor
precisa conversar com seu filho, mostrando-lhe simpatia e procurando compensá-lo
de maneira intencional e razoável.
A outra tentação é a de tornar-se tão dominado pelo sentimento de culpa, por
ter mudado seus planos, que o pastor chega a permitir que seu filho o manipule,
levando a ações e decisões que, de outro modo, ele não seguiria
propositadamente. Exercer a paternidade motivado por sentimento de culpa se
tornou muito comum em nossa cultura, e infelizmente os pastores não estão imunes
a isso. Os pastores têm de separar, em sua agenda, tempo para os filhos e
cumpri-lo rigorosamente. Quando os planos que afetam nossos filhos tiverem de
ser mudados, por causa de emergências do pastorado, precisamos ser diligentes em
compensá-los.
Um Pastor
Deus me chamou também para ser um pastor. Esta é a minha chamada vocacional e
ocupa a maior parte do meu tempo. Constantemente, eu me admiro do fato de que
Deus me deu o privilégio de servi-Lo desta maneira. O ministério pastoral é a
chamada vocacional mais sublime do mundo. Minhas responsabilidades pastorais têm
precedência sobre quaisquer atividades que envolvam recreação ou não façam parte
do ministério. Tudo o que está envolvido no pastorear o rebanho de Deus (e a
Bíblia o descreve de maneira bastante compreensiva) constitui o meu dever. Neste
ministério, a minha tarefa mais importante é trabalhar fielmente na pregação da
Palavra e na oração. Todavia, essas duas atividades não devem ser realizadas
simplesmente em um nível de profissionalismo. Pelo contrário, elas devem ser
praticadas em meio à minha busca por santidade.
Existe uma solidão inevitável que acompanha o pastorado. A maior parte do
trabalho no ministério pastoral pode ser feita somente quando um homem está
sozinho com seu Deus. Sem esse tempo de intimidade com Deus, o tempo gasto com
as pessoas não terá muito valor. Em nossos dias, existem milhares de “recursos”
disponíveis aos pastores, para capacitá-los a deixar de lado a árdua tarefa de
estudar as Escrituras e orar. Sermões “poderosos” e programas “garantidos” são
constantemente oferecidos aos pastores com intrépida fanfarrice. Um homem com um
pouco de esperteza, com pouca integridade e muitos recursos financeiros pode se
manter bem suprido com uma fonte inesgotável de tais recursos. Mas ele nega a
sua chamada por viver à custa do trabalho de outros, ao invés de fazer a obra de
seu próprio ministério.
Um Auxiliador
Além dessas quatro chamadas, em minha vida, também estou envolvido em ajudar
com outros esforços proveitosos. Meu trabalho no Foun-ders Ministries
(editando a revista Founders Journal, publicando livros, etc.) e
meu envolvimento na associação de pastores de minha cidade são importantes. Mas,
em termos de prioridade, todas essas coisas ficam em um nível inferior às quatro
coisas que já mencionei. Guardando isso em meu coração, posso poupar-me de
muitas dores e confusão.
Mantendo o Equilíbrio
Como essas prioridades funcionam? Bem, aqueles que nos conhecem sabem que não
praticamos sempre aquilo que escrevemos. Embora meu desejo e intenção sejam
nunca me desviar dessas prioridades, muitas vezes já tive de corrigir minhas
atitudes no transcorrer dos anos. Entretanto, esse é o valor de ter as
prioridades definidas com clareza. Elas nos fornecem um mapa confiável para
fazermos os devidos ajustes. Cada prioridade se fundamenta sobre a que a
precede.
Quero ser fiel em meu trabalho no Founders Ministries. Mas eu não o
poderei ser, se realizar aquele ministério à custa de minhas responsabilidades
pastorais na Igreja Batista da Graça. Além disso, eu posso ser um pastor fiel
sem estar envolvido em outros ministérios. No entanto, não posso ser um ministro
fiel, se negligenciar as prioridades de minha esposa e meus filhos. Na verdade,
de acordo com 1 Timóteo 3.4-5, estou desqualificado para o ministério, se tal
negligência qualificar minha vida. Também não poderei ser um pai fiel, se falho
em relação à minha esposa. Pelo contrário, uma das melhores coisas que posso
fazer por meus filhos é amar a mãe deles. E não posso ser um esposo fiel, se
negligenciar meu relacionamento com Cristo.
Todas as prioridades de minha vida podem funcionar com importância
apropriada, à medida que eu me mantenho no lugar certo. Mas, quando uma
prioridade inferior toma o lugar de uma mais importante, estou me predispondo a
uma queda. É espiritualmente desastroso colocar a minha esposa acima do Senhor;
ou meus filhos acima de minha esposa; ou meus deveres pastorais acima de
qualquer dos outros três. Não é menosprezível para a igreja que, em
minhas prioridades, o lugar dela vem depois de minha dedicação a Cristo e à
minha família. Pelo contrário, a igreja recebe mais do que ela necessita de mim,
quando eu ministro motivado por um compromisso consciente com essas
prioridades.
Recordando freqüentemente essas prioridades de minha vida, serei mais capaz
de estabelecer e manter um equilíbrio em minhas obrigações. Talvez a atitude de
disciplina que facilita este equilíbrio é aprender a dizer não. Spurgeon
declarou que, para um pastor, aprender a dizer não é muito mais importante do
que aprender o latim! Não importa quantas coisas o pastor tente fazer, sempre
haverá mais a ser feito. Algumas coisas boas que tentam
exigir a atenção do pastor têm
de ser deixadas sem fazer, de modo que ele possa fazer aquilo que é melhor e
mais excelente. Quando o pastor tem de fazer estas escolhas difíceis, deve
fazê-lo baseado nas prioridades do seu chamado. Então, ele pode descansar seu
coração sabendo que agiu com fé, fundamentado nas exigências que Deus tem feito
para a sua vida.
Fonte: http://editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=103